Quarta-feira, 5 de Maio de 2010

UMA CRÓNICA ANACRÓNICA

UMA CRÓNICA ANACRÓNICA
de Rodrigo da Silva
  
  
Não há nada melhor que estar ao lado ou na companhia da mulher que amamos; acarinharmo-nos, dialogarmos, rirmo-nos em conjunto, experimentarmos gestos novos, novos jeitos de fazer amor, sentirmo-nos bem por estar ao nosso lado.  Não é a solução toda para resolvermos tudo na vida, porque a vida é feita de outras coisas, de corridas contra o tempo, de trabalho às vezes duro, sem horas de descanso muitas vezes, mas quando estamos juntos ao lado do ser amado, o mundo já não é este, é outro.
 
É um mundo de ternura; um universo de sensações novas, de delirantes presentes, de grandes momentos de alegria e satisfação.
 
Sem a mulher amada ao nosso lado, todo o universo nos fica estranho, fica a ser uma luta de competições, uma necessidade de conquista diária com o propósito de satisfazermos carências básicas para a conservação dum estatuto social ou uma luta migratória para tentar a evasão da nossa condição humana.
 
Ao lado dela, outro mundo clama, reclama e declama, e o que é exterior dá lugar à partilha da intimidade, são pequeninos sonhos que nos põem gratos à benção e ao milagre da vida, unidos num só olhar pela flama da união. Nessas horas, consolida-se a paixão, ama-se a alma e o corpo. Atinge-se a divindade.
O cabelo dela é sedoso, doce é o nosso tacto. A boca dela sacia toda a sede dos nossos desejos, a boca dela embriaga-se com a palavra e o toque, o beijo, a inspiração da nossa expiração, a confusão dos cheiros de incenso inalados com sofreguidão em actos que se eternizam enquanto duram.
 
Nestes momentos não há crónica que possa ser importante, pois o presente permanece anacrónico. Também num fuso horário acrónico. Num espaço etéreo, um espaço para lá do deus Sol que nos aquece com o seu fogo prateado. Não há como a hora do amor, nessa hora o universo pára.
 
A crónica dá lugar à sonata, à balada, à elegia, ao pedido de mais estrelas para nos iluminarem a noite que se extingue. E se eu fosse um poeta, transformaria todo o sentimento em algo tão leve que não haveria medida convencional para poder avaliá-lo. Provavelmente, só um conjunto de sons que algum músico genial pudesse registar e compor para deleite do receptor.  E depois ser tocado ao som duma orquestra com os violinos em destaque. Pois que é assim que esquece o olvido.
 
Ora eu, que prometi uma crónica e estava agendada uma sobre a vida de um artista, vim aqui reproduzir uma estória anacrónica de amorno tempo e anacrónica no espaço, um texto que não avança nem recua, mas que perdura neste impasse de não ter razão para existir qualquer outra obrigação calendarizada.
 
Não é que a crónica pudesse ser interessante, mas o amor vale por mil e uma crónicas. Deixemos que a próxima crónica seja a crónica de, ou acerca de um artista, ou algo mais revelador como a estória de um dia sem amor.
publicado por cronicas-de-rodrigo-da-silva às 06:23
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2 comentários:
De Mariazita a 5 de Maio de 2010 às 20:58
Olá, Rodrigo

Gostei muito desta crónica. Das anteriores, que me mandaste por email, também gostei, mas esta tem qualquer coisa de especial...

Gosto de ler sobre o Amor, relacionamento humano, sentimentos...

Quis fazer-me tua seguidora mas, não sei porquê, a minha pretensão não foi aceite...

O meu primeiro blog foi do sapo, depois mudei para o blogger; acho que tem capacidades que o sapo não tem.

Se quiseres conhecer os meus blogs podes fazê-lo a partir do blog-mãe A CASA DA MARIQUINHAS (http://acasadamariazita.blogspot.com/)

Aí encontram-se linkados os meus outros dois blogs.

Continuarei a visitar-te. Já te incluí nos meus Favoritos para não te perder o rumo...

Beijinhos

Mariazita

De Teresa a 5 de Maio de 2010 às 22:35
UMA CRÓNICA ANACRÓNICA é um texto de grande nível estético-literário.
O deleite aumenta à medida que avançamos na leitura: metáforas de uma enorme beleza, trocadilhos, cadência, vocabulário de tantos e diversos domínios lexicais...
Uma crónica anacrónica porque se eterniza, pelo tema em que se inspira - o amor -, e na forma como o celebra.
Parabéns!

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