UMA CRÓNICA ANACRÓNICA
de Rodrigo da Silva
Não há nada melhor que estar ao lado ou na companhia da mulher que amamos; acarinharmo-nos, dialogarmos, rirmo-nos em conjunto, experimentarmos gestos novos, novos jeitos de fazer amor, sentirmo-nos bem por estar ao nosso lado. Não é a solução toda para resolvermos tudo na vida, porque a vida é feita de outras coisas, de corridas contra o tempo, de trabalho às vezes duro, sem horas de descanso muitas vezes, mas quando estamos juntos ao lado do ser amado, o mundo já não é este, é outro.
É um mundo de ternura; um universo de sensações novas, de delirantes presentes, de grandes momentos de alegria e satisfação.
Sem a mulher amada ao nosso lado, todo o universo nos fica estranho, fica a ser uma luta de competições, uma necessidade de conquista diária com o propósito de satisfazermos carências básicas para a conservação dum estatuto social ou uma luta migratória para tentar a evasão da nossa condição humana.
Ao lado dela, outro mundo clama, reclama e declama, e o que é exterior dá lugar à partilha da intimidade, são pequeninos sonhos que nos põem gratos à benção e ao milagre da vida, unidos num só olhar pela flama da união. Nessas horas, consolida-se a paixão, ama-se a alma e o corpo. Atinge-se a divindade.
O cabelo dela é sedoso, doce é o nosso tacto. A boca dela sacia toda a sede dos nossos desejos, a boca dela embriaga-se com a palavra e o toque, o beijo, a inspiração da nossa expiração, a confusão dos cheiros de incenso inalados com sofreguidão em actos que se eternizam enquanto duram.
Nestes momentos não há crónica que possa ser importante, pois o presente permanece anacrónico. Também num fuso horário acrónico. Num espaço etéreo, um espaço para lá do deus Sol que nos aquece com o seu fogo prateado. Não há como a hora do amor, nessa hora o universo pára.
A crónica dá lugar à sonata, à balada, à elegia, ao pedido de mais estrelas para nos iluminarem a noite que se extingue. E se eu fosse um poeta, transformaria todo o sentimento em algo tão leve que não haveria medida convencional para poder avaliá-lo. Provavelmente, só um conjunto de sons que algum músico genial pudesse registar e compor para deleite do receptor. E depois ser tocado ao som duma orquestra com os violinos em destaque. Pois que é assim que esquece o olvido.
Ora eu, que prometi uma crónica e estava agendada uma sobre a vida de um artista, vim aqui reproduzir uma estória anacrónica de amorno tempo e anacrónica no espaço, um texto que não avança nem recua, mas que perdura neste impasse de não ter razão para existir qualquer outra obrigação calendarizada.
Não é que a crónica pudesse ser interessante, mas o amor vale por mil e uma crónicas. Deixemos que a próxima crónica seja a crónica de, ou acerca de um artista, ou algo mais revelador como a estória de um dia sem amor.
Olá, Rodrigo
Gostei muito desta crónica. Das anteriores, que me mandaste por email, também gostei, mas esta tem qualquer coisa de especial...
Gosto de ler sobre o Amor, relacionamento humano, sentimentos...
Quis fazer-me tua seguidora mas, não sei porquê, a minha pretensão não foi aceite...
O meu primeiro blog foi do sapo, depois mudei para o blogger; acho que tem capacidades que o sapo não tem.
Se quiseres conhecer os meus blogs podes fazê-lo a partir do blog-mãe A CASA DA MARIQUINHAS (http://acasadamariazita.blogspot.com/)
Aí encontram-se linkados os meus outros dois blogs.
Continuarei a visitar-te. Já te incluí nos meus Favoritos para não te perder o rumo...
Beijinhos
Mariazita
De Teresa a 5 de Maio de 2010 às 22:35
UMA CRÓNICA ANACRÓNICA é um texto de grande nível estético-literário.
O deleite aumenta à medida que avançamos na leitura: metáforas de uma enorme beleza, trocadilhos, cadência, vocabulário de tantos e diversos domínios lexicais...
Uma crónica anacrónica porque se eterniza, pelo tema em que se inspira - o amor -, e na forma como o celebra.
Parabéns!
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