Sábado, 29 de Maio de 2010

BERTRAND RUSSELL # FERNANDO PESSOA

BERTRAND RUSSELL # FERNANDO PESSOA
 Por Rodrigo da Silva
 
Estava a imaginar e a preparar a crónica sobre Bertrand Russell quando, de repente, abri um fascículo da obra  de Fernando Pessoa; li numa hora esse soberbo mini-ensaio teatral «O Banqueiro Anarquista», escrito numa linguagem coloquial. Foi uma surpresa muito curiosa porque permitiu-me associá-los, enquadrá-los na filosofia desse tempo, e melhorar o conhecimento do recente último século, ou seja, possibilitou-me alargar o âmbito da argumentação que estava entre-mãos para desenvolver.
 
Comparando o matemático, filósofo, historiador, político activista, prémio Nobel da Literatura em 1950, com o Poeta Fernando Pessoa, há um enorme desfasamento, pois que este foi um simples e humilde guarda-livros (contabilista e tradutor), sem qualquer acção directa sobre a sociedade do seu tempo. A diferença a este nível é abismal, mas isto não quer dizer que um suplante o outro por atributos puramente arbitrários. Na realidade, Bertrand Russell não teve a mesma craveira artística, ao nível da Poesia, que este teve, exímio artista da Arte Poética, só descoberta e divulgada e expandida pelo Mundo inteiro, depois da sua morte, em 1935 com 47 anos de idade. B. R. nasceu em 1872 e morreu em 1979 com 98 anos. Como se vê o catedrático laureado inglês viveu mais do dobro de vulgar cidadão português, mas revelado esteta genial. Um teve existência breve, o outro um vida longuíssima, que dizia humoristicamente que a causa da sua longevidade devia-se ao consumo do tabaco pelo seu icónico cachimbo, um dos meios característicos e propagandísticos da sua imagem. Era uma das suas imagens de marca, como diríamos nos tempos hodiernos.
 
O orador inglês, sem brilhantismo na eloquência nem na teatralidade da oratória, atributos mais apropriados ao europeu continental, arrebatava apesar disso multidões de jovens e adultos pela palavra ajustada aos momentos críticos que a humanidade atravessava. Entusiasmava multidões pela defesa de prementes causas justíssimas, lembrem-se dos famosos slogans da época: «Make Love, Not War» e especialmente o «Ban The Bomb»,  aí incluída a mortandade no Vietname, reveladora da indiferença e desrespeito pela diferença entre regimes políticos dissemelhantes, dos movimentos feministas, da luta pela emancipação das mulheres; Pessoa, ao invés, foi um apagado homem vulgaríssimo, que nem no Amor assumiu qualquer parte activa; o seu único amor, o seu ou a sua mais que tudo foi a Poesia, a Prosa Poética e o ensaio magistral.
 
Em 1961, estava eu a residir em Londres, refractário à guerra colonial, e fui um dos seus fãs que ajudou a encher a Praça Trafalgar Square, Hyde Park Corner, e um dos que ouviu com o mesmo entusiasmo dos demais o seu discurso libertário e subversivo, que atiçou o ódio das elites políticas de então contra a guerra no Vietname, «Ban the Bomb» era a divisa, o lema, o slogan que unia os seus seguidores. Houve necessidade de usar a oratória reflexiva, pausada, tipicamente inglesa, para movimentar milhares e milhares de jovens e adultos que o apoiavam e lhe davam força com a sua preciosa presença e o número de manifestantes fazia tremer toda a estrutura dirigente do Reino Unido e dos EUA.
 
Do que deixou escrito destacam-se: Os problemas da filosofia (1912), Modas e Morais (1929),  Educação e ordem social (1932), a Historia da Filosofia Ocidental (1945), O Meu desenvolvimento filosófico (1959), Crimes de guerra no Vietname (1967) e A autobiografia de Bertrand Russell (3 volumes, 1967-1969).  
 
Revela-se na obra e na acção um anarquista (ou anarca como vulgarmente se lhes chama), preso algumas vezes pelo poder instituído, querido do seu Povo, convicto e um consciencializador de gerações que brotavam ávidas de novos conhecimentos e de mudanças sociais. Paralelamente Jean-Paul Sartre impunha respeito e era idolatrado em França pela geração de sessenta pelas suas ideias também anarquistas. A ciência era revolucionada com as descobertas de Einstein.
 
Fernando Pessoa, esteta do mesmo tempo, dá razão ao anarquismo, e explica-o superiormente ao escrever O Banqueiro Anarquista.
 
Quando se estuda um dos filósofos e historiadores do recente século passado, verifica-se que todos os mais avisados e mais destacados e mais influentes, todos eles argumentavam as mesmas ideias básicas  e as conclusões na forma de partilha mútua e comum: a queda do Império Romano, a Revolução Francesa e a Revolução Russa. Estas matérias marcaram todo o saber político, filosófico, sociológico, em suma: a sabedoria do Mundo Ocidental. Sistematicamente foram esquematizados os parâmetros reconhecidos,  e forma traçados planos de luta contra as ficções sociais, e desmascararam-se as mentiras das convenções sociais instituídas e dominantes na sociedade, assim educada e formada nas Escolas e Universidades. Houve então lugar para o surgimento generalizado e reforço dos partidos políticos, comunistas, socialistas, sociais-democratas, mas paradoxalmente todos criaram novas tiranias, uma vez que uma ideologia, qualquer ideologia adoptada, instituída e institucionalizada cria os seus próprios cânones a que todos têm de obedecer, e procuram por instinto de defesa a limitar ou coarctar o livre pensamento pessoal. Fundem-se, institucionalizam-se e impõem as directrizes duma mentalidade que se deve generalizar pela calada ou pela força, as leis, e as normas tornam-se avessas às novas revelações, novas descobertas, novas conclusões, e quando muito tendem a dialecticizar, mas com premissas nem sempre correctas e verdadeiras, a favor de sínteses protectoras do conservadorismo. O Estado na maior parte das vezes obstaculiza a liberdade de tentar reformulá-lo e reformá-lo permanentemente pelos livres pensadores. E, com efeito, só a evolução constante ideológica poderá criar a sociedade livre ideal.
 
Enquanto o anarquista delineado por F. P. se transforma em banqueiro que continua anarquista individual e individualizado por causa dos comportamentos também individuais da turba, diríamos agora que este atraso mental é contrário à evolução, quase genético; todavia, para  o anarca bem sucedido, rico à custa da sua avidez, trabalho e especulação, mestre na exploração, considerando os outros seus escravos por não conseguirem ultrapassar a sua condição de subjugação  à escravatura milenar, continuando  e continuam assim em qualquer novo movimento que os envolva. B. R. , ao invés num outro plano  defendia causas justas que levavam as comunidades alargadas a movimentarem-se e a exigirem a tomada de decisões políticas contrárias à vontade dos líderes, estas que levavam a Humanidade para catástrofes sociais na prática de guerras entre nações, guerras criadas e alimentadas pela necessidade de impor sistemas políticos a povos que as não desejavam, por considerarem-nas um meio de serem mais bem exploradas financeira e economicamente. A Finança vem em primeira lugar, porque é ela que comanda o globo.
 
Este Nobel merece referência nos dias de hoje, ler a sua argumentação é um acto obrigatório de cultura humanística. Morreu e continua a viver entre nós. É aliás um exemplo para os filósofos políticos do nosso tempo. Leiamo-lo todos nós para entendermos esta sociedade enferma e inculta, quanto à filosofia mais profunda que afecta a felicidade de toda a gente,  em que vivemos com os problemas dificilmente resolúveis que temos, causados unicamente pelos altamente poderosos deste planeta, esses que nos subjugam todos os dias porque somos seus escravos, como diz o Banqueiro Anarquista, imaginado por Fernando Pessoa.
 
(A leitura de B. R. quase exige que se volte a estes temas qualquer dia para analisar as suas teses acerca da virgindade e da emancipação feminina. Se calhar voltarei a malhar no ferro frio com argumentos da luta das mulheres distinguidas no  último século recente, pela causas mais nobres da Humanidade.)
 
Para conhecer melhor Bertrand Russell leia e ouça textos e entrevistas que estão inseridos em sítios da Internet, tais como:
(copie e cole no Internet Explorer)
 
I:\Documents\DOCUMENTOS DE rs\Biografia de Bertrand Russell3.mht
I:\Documents\DOCUMENTOS DE rs\Bertrand Russell.mht
I:\Documents\DOCUMENTOS DE rs\Bertrand Russell - Wikiquote.mht
I:\Documents\DOCUMENTOS DE rs\Bertrand Russell Quotes - The Quotations Page.mht
I:\Documents\DOCUMENTOS DE rs\Bertrand Russell - Wikipedia, la enciclopedia libre.mht
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/russell/ ;
http://www.youtube.com/watch?v=OziPcicgmbw
 
publicado por cronicas-de-rodrigo-da-silva às 17:11
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