Quinta-feira, 13 de Outubro de 2011

A INDIFERENÇA

 

A INDIFERENÇA

por Rodrigo da Silva

 

Causa-me alguma estranheza o facto dos aficionados da Internet intervirem tão pouco no que diz respeito a comentários contra ou a favor do que leem dentro do que neste espaço é editado, quer seja num vídeo, quer seja num blogue. Provavelmente será porque para deixar comentários é complicado. Os servidores da rede pedem a sua inscrição e complicam a adesão do leitor. Mas é pena porque se existisse uma melhor e mais numerosa intervenção com a sua crítica, ela enriqueceria possíveis debates, elucidações e argumentações, não pondo de parte que os autores afinariam por aí os seus diapasões literários ou prosaicos, quanto a critérios, concepções e convicções. O mundo evolui neste estado letárgico para a indiferença, o que é deveras lamentável, embora isso também nem rale ninguém. Foi por causa da indiferença de cada um neste planeta chamado Terra, que se cometeram e cometem os maiores crimes lesa-humanidade: recordem a perseguição religiosa bárbara da Idade Média, as chacinas nas guerras mundiais, a corrida aos armamentos na Guerra fria, a execução maciça de judeus na Alemanha, assim como no Cáucaso e nos Balcãs contra os muçulmanos e outras etnias, a perseguição e execução de políticos contrários aos regimes despóticos vigentes no nosso tempo nos países árabes, asiáticos, africanos e sul-americanos. A evolução da Humanidade deixa, pois, muito a desejar sem que se note grande melhoria na generalidade dos Países deste Planeta ainda que alguns já tenham avançado o suficiente, como é o exemplo admirável dos Países Escandinavos no Norte da Europa, agora confrontados com tentativas de regressão por causa de visões alienantes externas que respeitosamente têm a sua razão de ser, porém degradam indubitavelmente a condição e a evolução da Humanidade no seu trajeto para a Felicidade e a Harmonia universais, sendo estes qualificativos o Bem supremo a atingir (de acordo com o nosso sentir e pensar,acrescentado a milhares de pessoas que deste modo se manifestam - sem resultado visível ou concreto). É a indiferença que dói nesta História moderníssima de povos alienados e anestesiados pelas coisas supérfluas na ganância de acumular bens materiais, dinheiro fácil, com uma corrupção galopante, uma Finança imperial que corrói moralmente tudo e todos, degradante de todas as aspirações a uma saudável condição humana neste planeta, a canalização louca e absurda da riqueza produzida pelos povos para paraísos fiscais onde os megarricos praticam as maiores falcatruas, protegidos por legislações contraditórias e que fogem, por tanta absurdez, ao senso comum.


É a indiferença, amigos, que corrói as bases de um novo Humanismo, e ela está presente em todo o lado. Ademais, neste estado absurdo em que estamos, nunca atingiremos a meta ansiada pelas boas apologias que enformam a sabedoria universal.

 

Onde está a diferença na indiferença? Em nenhum lado. Onde está a vida edificadora? Está certamente na inércia, na apatia, no alheamento.

 

 

E a criatividade, onde está? Na aversão, no avesso, do outro lado do aquém, no vazio. E a imaginação construtiva, o voluntarismo, a solidariedade, o filantropismo, a compaixão, a comiseração, a paixão pela Humanidade, a ação política isenta e ética, a ação útil e proveitosa? Não existem. Ama-se a alienação, a anestesia, a alucinaria. É mesmo a morte da felicidade na ausência dela, na negação do ser-se humano. E diz-se que hoje o símio evoluído se intitula «hommo sapiens». Valoriza-se a contradição do amor ativo, do amor empenhado, uma ação que prima pela nulidade do que é ter um caráter forte.

 

Desvaloriza-se o espírito ativo em prol duma comunidade a que se pertence, e se se faz alguma coisa é o estritamente necessário para a sobrevivência do estatuto parasitário com alguma diversão supérflua à mistura no entretenimento da moda. Nada de cultura que não serve para coisa nenhuma, não faz ganhar dinheiro, não se impõe, só enche a cabeça, não brilha, nem se admira no círculo das amizades com seres semelhantes. O que é isso de lutar por causas humanitárias? Uma laracha, dirão eles, um modo para ganhar dinheiro a quem as promove!

 

A indiferença é uma atitude perversa dos valores humanos associados ao comodismo e ao egocentrismo. É um comportamento torpe contrário ao sentido de solidariedade; não é ação, nem reação; é a inércia e a apatia num estado de anestesia e alheamento - não há desculpa, nem perdão - é a filiação à causa da desumanidade. É a prova da estupidez, da cultura zero, da civilidade nula, do civismo petrificado, do espírito associativo ausente, do cidadão competitivo abandalhado, abrutalhado, do consumista obsecado por bens e honras artificiais e supérfluas, é o defeito pernicioso e contagioso para os pobres de espírito, que transforma alguém em ninguém sem préstimo para a evolução humana. É evidentemente pecado sem remissão para os cristãos, produto inerte do desejo da desigualdade.

 

E foi, e é, mas não será sempre assim, a indiferença a submeter-se ao império das diferenças que a exploram até dizer mais não; mas sendo uma força viva e dominante que se aproveita dessa indiferença para impor a sua ideologia escravizante das comunidades: a da usura, do fingimento, da aparência, do ludíbro, do disfarce, da falcatrua perpretada pelas classes mais altas da sociedade, com a sua melhor representação no clã dos homens da Finança; e a outra sendo a força viva da reação a esta, caracterizada por um espírito revolucionário, ou reformador dos estatutos diferentes na delimitação das classes: alta, média e baixa. Pois há efetiva e felizmente esse farol pertencente aos reativos no sentido da correção dos usos e costumes abandalhados; há os apologistas, os profetas da evolução, os poetas, os bons líderes de movimentos altruístas a olhar para os semelhantes com olhos de compaixão e a incitar a que estes reajam à indiferença que os domina pela diferença desse império financeiro e humilha causando mossa ao progresso espiritual da humanidade, ao destino a que está votado: o alcance da igualdade, da solidariedade, e em suma da Harmonia, da Justiça, do Bem e da Felicidade que todos merecem. O espírito divino assim nos julgue e sentencie a lei que havemos de alcançar, custe lá o que custar, dê lá para onde der, demore o tempo que demorar. Saudamos os tempos novos, os tempos da mudança mais veloz do que nunca: as novas tecnologias de informação e de comunicação vão ajudar, estamos certos, à aceleração dos passos para que se atinja a meta por todos ansiada.

 

2011. Portugal

sinto-me: ótimo
música: Antena 2
publicado por cronicas-de-rodrigo-da-silva às 19:18
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