Domingo, 30 de Outubro de 2011

O BEZERRO DE OURO

 

 

 

Não tenham muita esperança, nem expectativas exorbitantes, nem ânsias desmesuradas, ainda que não percam na totalidade o que delas poderiam resultar, e é bom nunca perdê-las radicalmente, assim como também não contem que o mundo de um dia para o outro num passe de mágica se irá transformar num oásis de felicidade, ou num éden de gozo, ou numa roda de festa constante com riso e sorrisos e com as mãos apertadas umas nas outras. Entre crianças isso até seria possível, mas entre adultos, a coisa muda de figura. Esperem outrossim uma luta árdua a travar, uma porfia infatigável rumo ao futuro. Na verdade, esse paraíso é um local muito afastado da realidade, é pouco nítido, é uma miragem na caminhada, hoje apetecida, permanentemente utópico e acrónico quanto à sua perfeição, e é o tropo preferido dos profetas, dos poetas, dos idealistas, dos filósofos criativos, dos ensaístas progressistas e edificadores dum mundo avançado (que não é este de modo nenhum); ela é geralmente uma visão vislumbrada na imaginação, e ainda bem que estes a descrevem, a narram, pois ela vai criando o seu espaço configurado nas mentes jovens emergentes que a descortinam mais facilmente e retêm para que um dia digam estarmos quase a alcançá-la. Um dia que não se sabe quando, nem o tempo exacto que vai demorar, nem quantificar o esforço para alcançar a meta, embora saibamos que ela aparecerá com contornos progressivamente mais nítidos do que agora. Foi assim na verdade que se deram todas as revoluções históricas da Humanidade.

 

 

 

Este é o tempo de permeio, dos pequenos avanços e grandes recuos, o tempo de espera, de gestação, se calhar de todas as incertezas, de muitas decepções; tempo de marcar passo e ficar no mesmo lugar, e até surrealistamente de escorregar para trás com acontece nos flashes induzidos de avanço e recuo fílmicos. Com efeito, a Humanidade avança e logo se retrai. Fatal como o destino, dir-se-ia, quando não há destino nenhum. Dá um passo à frente, e logo retrocede com medo do imprevisível. E o comodismo dá-lhe sustento, a indiferença trai a condição humana no planeta, o laxismo mina os alicerces de qualquer avanço conseguido, até parece que o sítio pisado atrai o seguinte que ainda não calcou totalmente o chão a pisar, e fica a tremer à espera da nossa decisão final, como acontece nas avarias técnicas das televisões. E é efectivamente esta característica da sociedade actual o pior óbice ao progresso e à evolução da Humanidade.

 

 

 

Todavia, o que está a acontecer hodiernamente a esta civilização ocidental, não é a atração pelo sítio anteriormente pisado, mas sim um recuo de um século, ou seja duma enormidade de passos dados em frente que recuam à estaca zero ou ponto de partida, e que se estão perdendo de ano para ano com uma estupefação que nem é bom nem fácil de definir. É por isso felizmente um tempo de reflexão, de consciencialização e até da meditação transcendente. Tempo de usar certamente a abstração, a entronização de novos padrões, novos modelos, novos psicoarquétipos. Tempo fértil e frutuoso para repensar a condição humana neste planeta. Um tempo de indignação e até revolta com esta regressão do percurso humano até aqui conquistado com alguma ou muita dificuldade.

 

 

 

A insensibilidade política (dos políticos de aviário) do tempo presente, muito contribui para que a indignação e a revolta estejam por aí prontas a deflagrar para o que der e vier. E não vai ser fácil, tão pouco previsível saber a consequência de qualquer acto mal interpretado. Porém, duma coisa podemos estamos certos: é este o tempo ideal para a mudança, para a transformação do homem aos níveis intelectual e comportamental pelo menos. É tempo de metamorfose. E custe lá o que custar, ela vai dar-se nesta década: um avanço qualitativo na mente do «simiu sapiens». Esperem para constatar o facto. Os nossos filhos e netos serão felizes por viverem na década (esta) das mais decisivas mudanças. E hão de vangloriar-se deste acontecimento.

 

 

 

Realmente, não vai ser fácil, mas também convém daqui afastar qualquer impossibilidade, mesmo que saibamos que há homens empedernidos por tiques de raiva, de retaliação, de inveja, de cobiça, de competição desenfreada, de má educação e formação, gananciosos «in extremum» e há ainda por aí orangotangos, chimpanzés, chacais, abutres, necrófagos a atrasar os novos paradigmas de convivência e de comportamento nas relações humanas e sociais; é esta a boa ocasião para que sejam tornados inúteis e ineficazes pela lógica das contradições agora detetadas. Pode ser difícil porque pode correr algum sangue, mas é plausível.

 

 

 

Eis o cancro do nossos tempos, ele é tão nítido que peca até por tanta nudez, a Finança mundial na ganância de lucro fácil e sem correr risco nenhum do negócio dos cifrões, pôs as garras de fora, sentiu que o terreno era propício à redução da Humanidade a uma tentativa de escravização às leis dos mercados, isso sendo a redução à escravatura humana. Cega como está não vê o mundo de outra forma. E resolveu igualar a globalização mercantil pela parte submissa e explorada da condição humana, inspirando-se nos modelos chinês e indiano, e faz agora um «forcing» para vencer esta etapa de submissão de povos mais ou menos desenvolvidos, que vão, estou certo, reagir por todos os meios e estratégias ao seu alcance, e estas são hoje muito fortes, graças às tecnologias de informação e comunicação. A redução do estatuto e condição humanos ao estado salarial e social dos continentes chinês e indiano é um recuo de décadas, atraso quiçá de um século ou mais, que os povos não vão consentir, e vão reagir certamente da maneira mais brutal, se houver necessidade disso.

 

 

 

Os políticos, como as avestruzes de aviário, no meio desta parafernália patriarcal andam loucos, pois veem a sua autoridade diminuída e menosprezada e têm tomado o partido da Finança. É este o cerne da questão, a visível chaga devoradora. Será a sua ruína e da Política vigente. Outra virá, e ela desenha-se nos nossos dias a olhos vistos. Primeiro começa-se a definir o horizonte pela negação do que não se quer de modo nenhum, também pela indignação, pela revolta, e a seguir pela positividade. Ela não tardará. Os povos sabem o que quererão, e os líderes aparecerão a concretizar as suas aspirações. Esta década vai ser uma nova época de iluminismo humanista. E se alguém não acreditar no que aqui afirmo, não vai esperar muito para ver a Finança submetida à Política dos bons políticos aparecidos. E tudo isto será, enquanto os povos não chegarem à conclusão que a Terra só é paradisíaca quando tiver um governo à escala mundial, como apregoava Bertrand Russell, e outros pensadores que falam a mesma linguagem lógica: um só governo eleito pelos cidadãos à escala global ou universal com senso transcendental. Até lá ainda acontecerão muitas transformações, mudanças e metamorfoses, aos níveis humano, psicológico, intelectual, religioso, social, comunitário, nacional, intercontinental, intercivilizacional.

 

 

 

Concluindo, já estivemos mais longe do que hoje para atingir a meta, e este tempo é o ideal para analisar, meditar, consciencializar as juventudes emergentes neste terreno espaço universal. À tentativa dum recuo secular, civilizacional, haverá decerto a reação capaz de nos permitir vislumbrar, mais nitidamente do que nunca, o avanço de um novo século de progresso e bem-estar. Esperem para ver; não vai demorar muito, nem sequer um lustro; só então desistirei de escrever, pois se acontecer depois deste tempo, já não estarei cá para confirmar, e, por consequência, resignar-me-ei à minha comprovada insignificância natural.

 

Rodrigo da Silva 

 

2011.Portugal

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O FALSO DEUS:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Bezerro_de_ouro

 

música: Antena 2
sinto-me: ótimo
publicado por cronicas-de-rodrigo-da-silva às 17:28
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