GOVERNANÇA TEATRAL
Se esta governança não tivesse uma gradação variável da comédia bufa, ou farsa caricata, estaríamos perante uma tragédia grega. Coitados dos gregos que estão a pagar as favas à governança deles! Trágico, não é? E, mau grado, ela agora expande-se à quixotesca ibéria com a sua plutocrática elite pançuda. Mesmo sem a pança de Sancho, que vai se reduzindo dia-após-dia para agravamento das nossas insuficiências…
Aparentemente, comédia bufa, à italiana, (outra nota cultural da arte românica que a amestrou, é agora vítima colectiva dela mesma, repudiando-a reactivamente como também sabe fazer), sendo um epíteto que traduz uma elite dourada sem apito. O (a)pito é apenas um modo de expressão que translada para uma a-pita-dela. E já que estamos em maré de choraminguices, aí vai mais um fadinho para comiserar estrangeiros, que nos visitam turisticamente para saborearem o sol e as praias, além do desporto, a preço de saldo - não vai durar muito a que assim seja, num País falido e austero (muito dele à míngua e à fome), empobrecido, no canto mais recôndito da Europa, uma nesga quase marroquina especialmente pela carestia do bem-estar social, pois algum teve mas deixou de ter.
Também mais um apontamento do engulho que temos de suportar (e que invisivelmente nos esbulha): comprar e vender propriedades por gente da política a ganhar uns milhões, grande negociata! Mandar milhões para a Suíça, outro negócio. Peculato e corrupção desenfreadas, assim: uma corrupção condenada fora de aqui, sem corrompidos dentro de cá... viva a esperteza do rato a usar os ‘off-shores’ para fugir ao controle do fisco e dos concidadãos, e vai aí venha mais outro fado desses que fazem chorar as almas compungidas. Tudo legal, tudo dentro da lei, e a coberto dela, tudo branqueado. E viva a Madeira, que é o que está a dar!
De tudo tão repetido, tão reiterado, tão ritualizado, tão trotinado, a comédia passa, pois, a ser uma farsa consentida e vulgar! Mas já não há pachorra para mais, diga-se de passagem e a propósito da desgraça.
Todavia, o que é essa do ‘pote’ público? O pote sem fundo que alimenta a rapinagem dos falcões (alvitramos ou aventamos vilões). Eles por aí andam, em trajes de gala a endeusarem-se mutuamente, a trocar cadeiras na ascensão de patamares dos serviços ministeriais públicos e promiscuamente privados cada vez mais elevados, até se reduzir tudo à elite dominante que nos suga o tutano com essa invenção das parcerias PPP, que se constituíram uma aberração dolosa dificilmente imaginável, que compromete definitivamente a república e a democracia, hoje esvaziada dos seus valores éticos. Já são nomes que dizem nada a qualquer português que se preze de o ser. Sempre que alguém diz que se deve reduzir salários e pensões e aumentar impostos, esse alguém só merece uma condenação efectiva: ser-lhe reduzido o salário ao ordenado mínimo. E quem fizer essa redução, efectivamente seja condenado a um quinquénio a pão e água. A farsa acabaria assim prescrita e proscrita neste palco teatral deste rosário de agruras e lamúrias com lamentáveis sanguessugas a protagonizar a cena presente. E o povo seria dono do seu destino, se... Ora (a)pita lá que já chegamos à Madeira! Para entreter este entretanto agora canta lá a morna cabo-verdiana, onde há também um fantasmagórico Banco ‘off-shore’, sítio onde faz-nos lembrar inúmeros dias e dias do calaceiro gozar a Boa Vida da Finança, sendo ele uma dor de cabeça manifestada vergonhosa e envergonhadamente por alguns governantes da nobre gente deste Arquipélago, ainda que estejamos convictos que é apenas uma dor de dentes inflaccionada, para adiar indefinidamente a sua extinção...ah!, que saudade dessa inflexão vocal de Cesária Évora...
Saudade dos velhos tempos em que não havia esta treta da governança desgovernante e desgovernada sem paralelo na nossa História, em que o cifrão é actualmente o valor máximo da elite predadora a mamar numa vaca parecida com a gorda Cornélia mamuda. À Madeira também chegou a Cornélia para se misturar com as vacas lá do sítio, contudo só pouquíssimos mamam, a maioria esmagadora dos ilhéus está fora do jardim relvado a trabalhar como mouros ou galegos. Moiram e mourejam o chão com mãos calejadas que a terra um dia há de comer.
Imitem, senhores, a voz de Max e o seu ’Bailinho da Madeira’ à frente dum transmontano, dum beirão ou dum alentejano, ribatejano ou açoriano, e eles arrancarão as pedras das fragas para vos apedrejar. No entanto, dado que os alentejanos não têm acesso a calhaus cantarão a ‘Vila Morena‘, tão incisiva e memorável, que competetivamente produzirá o mesmo efeito, quiçá a superar o fadinho lisboeta, património invisível da Humanidade, honrado pela UNESCO!
Na verdade, o fado arrasta-nos para a miséria, e, ao menos, a canção empolgante, vinda do Alentejo, traz-nos a esperança de outro País por ressuscitar. Reanima. Renova. Redime.
Em vão procuro um fado que dê luz ao sangue lusitano. É tudo pois comédia bufa, se não fosse tragédia, e bufa porque o povo bufa bufa mas não resolve coisa alguma, e também é farsa porque os comediantes se repetem desde há duas décadas. Realmente, caricata, pela insistência.
Todavia, e antes não fosse, será tragédia consentida a curto prazo. Aqueles que vestem toga nos tribunais leoninos são os nossos coveiros, e ao mesmo tempo sentam-se (a assobiar para o lado quando não dormem) no anfiteatro-sede da nossa democracia agonizante. Eles vão enganando-a até à morte, e já não falta muito para um funeral bem carpido. De facto, já nem com algumas ou muitas reformas sejam elas quais forem, fingindo ser o que não são, o País se levantará, sítio poisado onde há uma ilimitada cumplicidade apadrinhada por membros influentes dos Partidos políticos que sempre partilharam e partilham o poder, e estão habituados a trocarem e a renderem favores uns aos outros, independentemente da sua bandeira bairrista.
Por fim só haverá uma solução: afastar de vez a elite dominante. Estamos a viver hodiernamente num teatro político de marionetas e é na sua manipulação, onde pontifica a Alta Finança ou a Plutocracia, que a essência da crise se evidencia com maior acutilância. Esta crise não é do povo, ela é a da elite dominante, não só aqui, nesta nesga à beira mar plantada, mas por esse mundo fora com excepção de algumas nações nórdicas, bastante evoluídas politicamente, contudo com escassos, ou melhor, sem nenhuns seguidores até à actualidade (e até ver, pois não há mal que sempre dure, nem fado que não acabe).
12/10/2012
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Fundamentos reflexivos: abra os links abaixo transcritos
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93pera-bufa
http://www.infopedia.pt/$farsa
http://www.boitempo.com/livro_completo.php?isbn=978-85-7559-174-1
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/tag.aspx?tag=BPN
http://www.portugalcaboverde.com/news_detail.php?id=158