Domingo, 12 de Setembro de 2010

A EUROPA VIVE DA OU NA UTOPIA?

A Europa vive da ou na utopia?
Rodrigo da Silva

 

Uma Comunidade europeia - como Estado com um Governo próprio - é uma ideia utópica, ou seja, poética. Mas não é nada que não se possa concretizar, basta torcermos todos por ela. Será um projecto que não passa das boas intenções (dessas das quais o inferno está cheio) - intenções de sonho que surgiram a seguir à segunda guerra mundial, a guerra que devastou Nações e Povos desde a Inglaterra até à Rússia, ou será uma aspiração só exequível na mente duma minoria sociológica que luta por causas nobres? Depois de tanta crueldade - e diga-se ao correr da pena - a vileza ainda continua nas pessoas que gostam de entretenimentos violentos: touradas, excisões penianas ou clitorisianas, lutas de galos e cães até à morte de um deles, boxe, violência doméstica, delapidação à pedrada, em nome de Alá e do Corão islâmico, de mulheres cujo erro (?) foi amar alguém que não podiam nem deviam (?) - um pecado mentalizado à luz dos preconceitos morais ancestrais e actuais - errados preconceitos, que nem sequer são ordens emanadas do Além, mas más interpretações dos livros ditos sagrados; pois, neste contexto, haveria de surgir uma utopia iluminada: a de pensadores e filósofos das gerações do pós-quarenta, que foi assistida por homens com acções brilhantes, cujos nomes são Helmut Kol, François Miterrand e Jacques Dellors; bateram-se com toda a energia dos seus espíritos visionários pela unificação da Europa - não pela guerra como anteriormente outros batalharam (Napoleão já o tentara, Kaiser William II também, para seguirem as peugadas de Júlio César), mas pelas Paz e Concórdia. Pela Paz e pelo interesse financeiro e económico europeus, visando as igualdade, solidariedade e fraternidade nunca dantes imaginadas entre Nações e Povos distintos, os quais tenderiam, nesta perspectiva conjunta, a congregarem-se ou confederarem-se num Estado e Nação unificados pela defesa do ideal da Concórdia duradoura e exemplar.

 

Começou-se pela integração monetária - a moeda única, o €uro, e por esta causa houve desde logo divisões. Ora, se a mais fácil e simples proposta e a mais fundamental para atingir a meta inicial não mereceu o apoio de todos os membros aderentes ao projecto, então, todas as restantes e principais ficariam para as décadas do porvir, com dúvidas e mais dúvidas sobre a sua concretização. Já não a vislumbramos certamente, tão cedo, e se calhar nem na tardança de todas as tardes tardias.

 

Falando agora no que nos diz respeito: quando Portugal entrou oficialmente na CEE, julguei, como muitos compatriotas, que iria haver livre circulação de pessoas e bens, uma aproximação de valores salariais e de preços nesta sociedade consumista. Ora, nada mais errado foi pensar assim. Excepção feita à circulação de pessoas e de bens, os salários continuaram e continuam desfasados; e já lá vão quase três décadas, mantendo-se a desproporção inacreditável e obscena com uma sobrecarga de impostos, especialmente os indirectos (lembram-se por exemplo da dos automóveis); ela manteve-se ou agravou-se de ano para ano. E por isso não é de aplaudir esta desigualdade gritante de País para País (em Espanha, por exemplo, não há esta sobrecarga fiscal, nem na totalidade dos outros Países europeus).

 

Andou a propagandear-se um Estado  europeu, feito à imagem dum oásis, e a que assistimos nós? À ganância do lucro especulativo por parte dos Estados mais fortes. No caso português, a ganância deu-se noutro aspecto, a de obter receitas através dos impostos para os governantes manterem um Estado gordo e descomunal com funcionários a mais, serventias a mais, mordomias a mais, choferes a mais, carros a mais... gentes das cúpulas a ganhar o mesmo ou mais  do que é pago noutros Países da UE (recorde-se o caso do administador do Banco de Portugal, Victor Constâncio, que nunca convém esquecer para se pintar com cores perenes a manjedoura rica dum Estado pobre; o governador do Banco ganhava mais em relação aos demais europeus, mais bem pago do que na rica América do Norte); há outros casos flagrantes: administradores e gestores da Banca privada, como foi o caso do piedosíssimo Jorge Jardim (também da Opus Dei - é que ser desta seita dava-lhe um poderoso carácter de seriedade e inimputabilidade numa terra onde se olham estas pessoas, cheias de manha e prestidigitação, como um boi, ou seja: olha-se para elas como um bovino olha para um palácio, embasbacado e fulminado); e chega-se à conclusão, depois de se tirar a prova real, como nas contas de somar (no caso deles de multiplicar geometricamente), que realmente são comediantes e cavaleiros de tristíssima figura; outros andarão à socapa e sem fazer grandes ondas, dispersos pelas Instituições, pelas Empresas semi-públicas ou públicas, lugares onde o erário público participa quando as finanças correm para o torto; algumas estão até a laborar em regime de monopólio para poderem esfolar o contribuinte-pagante, a fim de recompensar essas soberbas verbas salariais (e até há quem diga que são pornográficas ou pornofílmicas).

 

Li hoje que a Europa, representada em Bruxelas por deputados eleitos em todos os Países, mas especialmente com determinação do seu mais forte representante - A Alemanha -, prepara-se para uniformizar critérios para elaboração de Orçamentos anuais de cada Estado. Pensei logo: ora, até que enfim, esta é uma boa medida que talvez resolva grande parte dos nossos problemas de incompetência governativa, a qual só visa os actos eleitorais com medidas a curto prazo. No nosso País, quem mais prometer é quem ganha eleições, sabendo ser comediante e trapaceiro. Aqui, ganha o melhor actor, o melhor representador, o melhor pretidigitador.

  

Depois de eleito, a oposição contabiliza as perdas das promessas, ou promessas incumpridas, e fica a aguardar a sua tomada de posse do poder para fazer mais ou menos o mesmo que criticou ao adversário político. E assim sucessivamente até à nova eleição, onde ganhará o melhor tenor que canta uma canção muito similar à canção do bandido ou do animal feroz. E assim rola a nossa opereta bufa. Mas quem bufa, e bem, no fim, é contribuinte activo que não pode fugir ao fisco. Paga por ele e por todos os que fogem dele por meios tortuosos até chegarem aos paraísos fiscais, em off-shores, inventadas para esse efeito - fugir aos impostos e às patifarias financeiras dos nossos bons grandes patifes. Os Bancos também dão uma ajudinha aos amigos que ofereçam uma prendinhas e elas enchem alguns bolsos com umas ofertas assaz generosas, quando não são os próprios administradores a gerir os recursos dos amigalhaços e deles mesmos. Na verdade, alguém dizia, nestes tempos de colapso financeiro de boa parte da Banca,  que a melhor maneira de roubar um Banco é geri-lo (principalmente, administrá-lo). E foi o que aconteceu nesses tantos casos que vieram a público pela Imprensa e Comunicação Social nesta Europa associada aos EUA.

 

Neste palco de incríveis acontecimentos financeiros e económicos desta década, início dum novo século, vamos esperar para ver, se continuarmos vivos, para assistir aos desfechos destas conjunturas surpreendentes sucessivas na catadupa, ora ultrapassadas, ora minadas e explodidas, logo a seguir contrabalanceadas... e a palhaçada lá anda na corda bamba.

 

A crise que atravessamos não permite que tudo continue como até agora e aqui. Exige, deveras, muito mais. É que um orçamento dum Estado com critérios bem definidos e universalistas, decerto, iria corrigir muitos desvios nos quais o País se viciou por razões de interesse particular e não geral.

 

Só com critérios vindos de fora com acertos feitos por mãos sabedoras, e sempre por imposição onde ela tenha de actuar, esta república deixará de ser a das bananas e dos bananas, e poderá olhar para os cidadãos com algum sentido de igualdade e solidariedade; acarretará certamente perdas forçosas e forçadas para a classe dos mamões, que sugam este pequeno território com muito poucas coutadas feudais, todavia com senhores que arranjam mais uma teta para familiares ou amigos ou 'boys' do partido (eu disse boys, não disse bois, salvos sejam), ganharem à grande e à francesa (esta expressão também já está ultrapassada, pois agora é mesmo à grande e à portuguesa), sem competência nem formação para a função que desempenham no organismo estatal e especialmente o outro - o periférico.

 

Se remontarmos a um passado ainda recente, para não trazer para aqui palavras do poeta Luiz de Camões, ainda que não sejam muito diferentes das que vou citar, Eça de Queirós caracterizou os representantes do Povo como seres hipócritas, incompetentes e desprezíveis; Guerra Junqueiro já antes havia chamado ao povinho uma besta de carga sem reacção ao jugo a que é submetido. No entanto, não estão ainda hoje muito longe da verdade: estamos à mercê de grandes mamões, videirinhos e vigaristas, alguns formados nas Escolas Superiores do Ludíbrio, e o nosso Povão é mesmo um Zé-Ninguém; nem que o enganem de eleição para eleição, nem que o reduzam à escravatura simplificada: pão, água, uma cabana degradada, uma TV comprada em 2.ª mão, uns cobres para cigarros e vinho, uma mulher para de vez em quando levar umas lambadas, tornando-se progressivamente um figurante do tipo asiático ao qual se vai aproximando de ano para ano, ele não reagirá. Estamos, realmente, e reafirmo, na república das bananas e dos bananas e anda neste regime este Zé-Ninguém, iletrado, como se constata diariamente, ou alfabetizado disfuncional, à espera duma ajudinha ou duma banana que ocasional ou esporadicamente possa sobrar da manjedoura dourada para se sentir gente. E assim «lá vamos cantando e rindo» a passo de lambisgóia no espaço temporal, mais à moda do falecido santo estadista de Santa Comba Dão, que deixou por cá perduráveis raízes e pensamentos mestres, nesta liberdade tão apregoada, contudo sem passar de um sufoco com o medo a medrar em cada esquina.

 

Não há como esperar para ver, repito, se lá chegarmos. Se essa medida de sermos governados por um poder centralizado a representar todos os povos, etnias, e especialmente as classes elevadíssimas na escala social, não vingar, não se vislumbrará nada de bom para o desenvolvimento da UE. Certamente que se alguns se excluírem de projectos comuns, sejam sociais, sejam salariais, sejam financeiros e fiscais, pois a desigualdade e a ganância privada continuará desmedidadamente. A trapaça não terá mais fim. Haverá, como há, países ricos e pobres. E se este cenário indesejável se mantiver, não é a preparação nem a aproximação dum Estado único com um governo democrático supra-nacional. Efectivamente, enquanto persistirem as diferenças, pelotões da frente e carros-vassoura para rebocar os países que estão à mercê das aves de rapina, que ainda governam as poucas-grandes coutadas duma Grécia ou dum Portugal, esse sonho utópico tão belo, quanto poético, não singrará mais. Para nossa desgraça, desconforto e fado amaldiçoado.

 

Como curiosidade neste final de exposição de ideias, realmente, Bertrand Russel fazia apologia dum Estado único e Governo único, mas a nível mundial, como forma de acabar com as assimetrias, lutas, desigualdades, armamentos, desperdício de dinheiros que acabariam por compensar as dificuldades com que muitos povos se debatem, alguns entregues à fome, quando não à miséria.

 

Para além de tudo o mais, os povos que nestes dois Países habitam representam tudo o que há de pior neste mundo: uma apatia ociosa, um conformismo aparvalhado, uma alienação total; características que não justificam de modo nenhum os desenho e escultura com que Bordalo Pinheiro se imortalizou (aquele e aquela do manguito que todos conhecem sobejamente); afinal, só usam esse gesto soberbo quando se dirigem ao vizinho do lado, ou quando se sentem uns senhores muito poderosos dentro do seu automóvel a fazer as maiores diabruras nas estradas de Portugal.  Diversamente, porém, e ao contrário, nunca mandam àquela parte os seus representantes que elegem sem conscientemente saberem como, nem porquê.

 

Sábado, 11 de Setembro de 2010

 

Leia o link abaixo transcrito, algo instrutivo sobre a União Europeia:

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Europeia

 

música: RDP - ANTENA 2
sinto-me: óptimo
publicado por cronicas-de-rodrigo-da-silva às 01:57
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